
arte da guerra
Sua coleção de obras de arte será exposta em 2021 no Museu de Arte de Zurique. Mas sua história controversa continua a ser debatida. Quem foi Emil Bührle? E como um cidadão comum alemão tornou-se o homem mais rico da Suíça e um colecionador mundialmente conhecido?
Este conteúdo foi publicado em 04. janeiro 2021 - 10:0004. janeiro 2021 - 10:00Andrea TogninaOutras línguas: 4"Em 1924, Emil Georg Bührle veio à Suíça com uma mulher, duas pinturas e um emprego”, conta Mathieu Leimgruber, historiador da Universidade de Zurique. Em 1940, sua coleção já incluía mais de 50 pinturas e esculturas. Durante a Segunda Guerra Mundial, mais 90 obras de arte foram integradas à coleção. Com o aumento exponencial dos lucros como fabricante de armas nos anos 1950, a aquisição de obras de arte cresceu no mesmo ritmo. Em 1956, depois da sua morte, a coleção reunia 638 peças.
Duzentas dessas peças serão expostas a partir do próximo ano no Museu de Arte de Zurique (Kunsthaus Zürich). Leimbruger supervisionou um estudo encomendado pela cidade e o cantão de Zurique para esclarecer o papel controverso do mecenas e fornecedor de armas. Afinal, a história da coleção de Bürhle está intimamente entrelaçada à ascensão do maior comerciante de armamentos da Suíça.
Estudo controverso
Filho de um contador, Bührle cresceu em Friburgo, na Alemanha, onde estudou literatura e história da arte. A Primeiera Guerra Mundial, no entanto, o obrigou a abandonar os estudos. A experiência no front o tornou, em suas palavras, um homem que encara "nos olhos os duros fatos de maneira sóbria" – uma frase que ressalta uma visão de mundo tipicamente masculina para o seu tempo e influenciada pela guerra.
Com o fim da Primeira Guerra, Bührle não voltou imediatamente à vida civil, mas tornou-se membro de um dos grupos do Freikorps para combater os comunistas na Alemanha. Foi nessa época que Bührle conheceu sua futura mulher, Charlotte Schalk, filha de um banqueiro de Magdeburgo. "O encontro com a família Schalk é central", observa Mathieu Leimgruber.
Um anticomunista no auge do sucessoMas no final da guerra Bührle enfrentou algumas dificuldades. Em outubro de 1944, o Conselho Federal da Suíça impôs uma proibição à exportação de armas, que foi reiterada em junho de 1946.Devido às estreitas relações comerciais que tinha com a Alemanha, o fabricante de armas também foi incluído entre 1941 e 1942 na lista negra dos Aliados.
Emil Bührle, antissemita?Bührle procurou diversificar a sua produção. Ao mesmo tempo, porém, o Acordo de Washington, de 1946, permitiu que a Suíça resolvesse a disputa com os Aliados, devido às estreitas relações econômicas com as potências do Eixo.
A normalização das relações com os países ocidentais e o confronto crescente entre os blocos antagônicos, liderados pelos EUA e União Soviética no contexto da Guerra Fria, abriu novas perspectivas para os fabricantes de material de guerra. Junto com outros atores do setor armamentício, Bührle fez lobby – e com sucesso – por um regime de exportação mais brando.
Já em 1948, os novos mísseis balísticos desenvolvidos pela empresa de Bührle despertaram o interesse das forças armadas dos Estados Unidos. Em 1951, Washington decidiu usar o material na Guerra da Coreia.
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Apesar de algumas dúvidas por parte das autoridades suíças, Bührle recebeu uma licença de exportação de 300 mil mísseis para os EUA em 1953. Ao mesmo tempo, o Exército suíço também investiu em um extenso programa de rearmamento.
Bührle, naquele momento o homem mais rico da Suíça, estava no auge do sucesso: seu anticomunismo de longa data estava em perfeita harmonia com os interesses geoestratégicos do Ocidente, e sua reputação como colecionador de arte se estendeu por todo o mundo. Em 1955, a revista Fortune o considerou um dos cinco maiores colecionadores do mundo. Um ano depois, Emil Bührle morreu de ataque cardíaco.