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Prometeu o roubo do fogo

Prometeu o roubo do fogo

roubo do fogo

Embora vivos e dotados de espírito, os humanos continuavam paralisados, como se um medo terrível os petrificasse. Isso acontecia porque, ao criá-los, Prometeu havia lhes dado também o dom de ver o futuro, comum entre alguns titãs. E, como eram mortais, os humanos não cessavam de ver mentalmente a hora de suas próprias mortes. Para livrá-los desse medo, Prometeu apagou o dom da profecia e os homens passaram a viver em uma abençoada ignorância. Apenas alguns deles, os profetas e videntes, preservaram o dom de ver o futuro.

Mesmo livres do império do medo, os homens ainda careciam de conhecimento. “Tinham olhos para ver, mas não tiravam proveito do que viam; tinham ouvidos, mas não compreendiam os sons; como vultos em um sonho, ao longo dos dias, andavam sem propósito em total confusão. E viviam no fundo do solo, em cavernas escuras, como bandos de formigas”, escreveu o dramaturgo grego Ésquilo na tragédia Prometeu Acorrentado, do século 5 a.C.

Sentado à beira-mar, Prometeu ensinou aos homens os mistérios da astronomia. Levou-os às profundezas da floresta e ensinou quais plantas podiam ser comidas, e quais animais podiam ser domesticados. Instruiu-os na cura de muitas doenças e ensinou-os a tirar da terra os metais necessários para construir ferramentas. Também presenteou a humanidade com os números e as letras. Agora, os homens podiam escrever histórias, fazer cálculos e registrar o passado. O homem começava a entender o mundo, e estava quase pronto para dominá-lo.

No alto do Olimpo, Zeus observava a criação de Prometeu. E gostava cada vez menos do que estava vendo. Por algum motivo obscuro, o senhor dos deuses sentiu uma antipatia imediata pela humanidade. Político ardiloso, talvez temesse naqueles seres aparentemente modestos um competidor à altura dos deuses. Era preciso impedir que os homens se tornassem demasiado atrevidos. O senhor do Olimpo sabia que só faltava uma coisa para que os filhos de Prometeu dominassem a superfície da Terra: o segredo do fogo. Por isso, proibiu que uma única fagulha fosse colocada nas mãos da humanidade.

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Mas Prometeu não lhe deu ouvidos. Agora, o titã se arrependia do apoio que dera aos olímpicos: os desmandos de Zeus o repugnavam. Decidiu tornar os homens tão engenhosos que eles haveriam de ser semelhantes aos deuses.

Certa madrugada, em segredo, Prometeu subiu sorrateiramente as encostas do Olimpo. Esperou que Hélios, o deus do Sol, surgisse no horizonte, conduzindo sua carruagem de chamas. Quando o carro do Sol estava passando perto do cume do Olimpo, Prometeu acendeu uma tocha em seu calor. Depois, desceu o monte e levou aos humanos o mais revolucionário de todos os segredos. Agora, a humanidade podia moldar os metais em ferramentas e utensílios. Podia criar vasos para carregar água; podia cozinhar e assar sua comida. E podia aquecer-se à beira das chamas quando as neves do inverno cobrissem o mundo.

Houve festa entre os mortais. Grandes fogueiras foram acesas nos campos e nos montes, e os homens dançaram ao seu redor até o cair da noite. Mas do alto Olimpo os olhos vingativos de Zeus viram os reflexos das chamas. Na obra Os Trabalhos e os Dias, escrita no século 8 a.C., o poeta Hesíodo relata o juramento de vingança pronunciado por Zeus contra o titã rebelde: “Filho de Jápeto, que ultrapassa a todos em astúcia, você está feliz por ter-me enganado. Mas o seu presente será uma grande praga para a humanidade. Em troca do fogo, darei aos homens um mal que vai seduzi-los, e que eles acolherão com alegria, sem saber que abraçam sua própria destruição

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